Relacionamentos saudáveis são construídos com diálogo, respeito e troca. Mas, quando as discussões conjugais se tornam frequentes e desrespeitosas, o vínculo deixa de ser espaço de apoio e passa a se tornar um terreno de desgaste emocional. Muitas mulheres vivem esse ciclo silenciosamente, acreditando que é “normal discutir demais”, quando, na verdade, estão se afastando de si mesmas e adoecendo emocionalmente.
Estudos como os de Beck (2019) apontam que a frequência, o conteúdo e a forma como os conflitos ocorrem em uma relação têm impacto direto na autoestima e no bem-estar psicológico da mulher, especialmente quando envolvem críticas constantes, silenciamento ou desvalorização.
Quando a discussão deixa de ser saudável?
Todo casal discute. Isso é parte do processo de convivência. O problema começa quando o tom muda, a escuta desaparece e o outro se torna um adversário, não um parceiro.
Segundo Gottman (2011), pesquisador referência em relacionamentos conjugais, existem quatro comportamentos que costumam prever a deterioração de uma relação: crítica constante, desprezo, defensividade e bloqueio emocional. Esses comportamentos, quando recorrentes, alimentam uma atmosfera de hostilidade e minam o senso de valor pessoal da mulher.
Os impactos da desvalorização nas discussões
Muitas mulheres relatam sentir-se:
• Culpadas constantemente, mesmo quando não fizeram nada de errado
• Desmotivadas, com perda de confiança e amor-próprio
• Com medo de se expressar, para “não gerar briga”
• Em dúvida sobre sua percepção da realidade, em relações com manipulação emocional
A repetição dessas dinâmicas provoca o que a psicologia chama de erosão da autoestima, um processo no qual a mulher começa a duvidar da própria capacidade, valor e até merecimento de amor e respeito.
Quais excessos emocionais você não deve normalizar?
1. Gritos, xingamentos ou tom agressivo constante
O volume da voz não é justificativa para impor ideias. Gritar é uma forma de violência verbal e emocional. A repetição desse padrão faz com que muitas mulheres internalizem a ideia de que precisam “melhorar” para evitar conflitos, quando, na verdade, o problema está na forma como o outro se comunica.
2. Críticas destrutivas frequentes
Quando o outro critica não suas atitudes, mas quem você é, algo está errado. Comentários como “você é louca”, “você não serve pra nada” ou “você só reclama” não são opiniões — são formas sutis de abuso emocional.
3. Indiferença e silêncio como forma de punição
A “punição pelo silêncio”, também chamada de stonewalling, é uma estratégia emocional altamente nociva. Faz a mulher se sentir invisível, desimportante e culpada por algo que não compreende.
4. Desqualificação das suas emoções
Frases como “você é exagerada”, “isso é coisa da sua cabeça” ou “você está sempre sensível” são formas de invalidar sua experiência emocional. Com o tempo, isso mina sua confiança na própria percepção e afeta seu senso de realidade.
Como preservar sua autoestima em meio aos conflitos?
1. Pratique o autoconhecimento
Quando algo te machucar, não se silencie. Ouça o que você sente. Suas emoções são válidas, mesmo que o outro tente desqualificá-las.
2. Estabeleça limites
Relacionamentos saudáveis têm espaço para discordâncias, mas limites claros evitam abusos. Não é sobre ser radical, mas sobre deixar claro o que você não aceita mais viver.
3. Busque apoio emocional
Conversar com amigas, familiares ou um psicólogo pode ajudar a enxergar com mais clareza o que está acontecendo. Muitas vezes, normalizamos o que nos fere por medo de ficarmos sozinhas. Mas a solidão emocional dentro de um relacionamento é ainda mais cruel.
4. Reforce sua autoestima fora da relação
Seu valor não está atrelado ao que o outro diz ou deixa de dizer. Invista em você, em seus projetos, em sua autonomia. Quando você se enxerga com mais amor, torna-se mais difícil aceitar migalhas emocionais.
Você não precisa se diminuir para manter um relacionamento.
É possível discutir e discordar com respeito. Mas não é saudável aceitar a repetição de conflitos que te ferem, te silenciam ou te fazem duvidar de quem você é.
Se o preço do amor é a perda da sua autoestima, talvez não seja amor — seja dependência emocional disfarçada de afeto. Você merece uma relação em que seja possível crescer, e não se encolher.
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📚 Fontes Científicas
• Beck, A. T., & Alford, B. A. (2019). A Psicologia da Depressão: Teoria e Terapia Cognitiva. Artmed.
• Gottman, J. (2011). Os Sete Princípios Para o Casamento Dar Certo. Objetiva.
• Orth, U., Robins, R. W. (2014). Self-esteem development from young adulthood to old age: A cohort-sequential longitudinal study. Journal of Personality and Social Psychology, 106(4), 721–739.
• Neff, K. D. (2011). Self-Compassion: The Proven Power of Being Kind to Yourself. HarperCollins.
• APA (American Psychological Association). (2022). Understanding Psychological Abuse in Relationships. Disponível em: www.apa.org